sexta-feira, 26 de setembro de 2008

A tua juventude se possível


Eu respondia que não gostava de Ruy Belo, porque não confessava a ninguém que gostava muito mas me custava também muito. Volto a ele com alguma frequência, e voltei agora de novo na evocação dos trinta anos da sua morte. Regressei aos livros que primeiro descobri, editados pela Moraes (Transporte no Tempo, 1973, Toda a Terra, 1976) e comprados em saldos por tuta e meia. Ainda me lembro como fiquei incomodado quando cheguei a casa e os li noite dentro. Foi uma experiência única: percebi que aqueles poemas me faziam mal. Eu tinha vinte anos, era demasiado cedo para me preocupar com a passagem do tempo, mas já era dado ao sofrimento por antecipação, ainda hoje sou, e foi esse tema que me perturbou logo nos poemas de Ruy Belo, não apenas a passagem mas o “transporte”, as épocas misteriosamente cruzadas, o tempo passado contido no presente e o presente no passado, como em Eliot. E as estações, a sensação de que vivemos na estação errada, de que sentimos emoções mais apropriadas à estação anterior ou à seguinte, à estação autêntica. E as raparigas eternamente raparigas e tão mortais como um relance. Eu pensava que a melancolia era um sentimento suave até conhecer esses poemas. Foi um choque tão grande que fiquei anos sem tirar esses livrinhos da estante, com medo. [...]

(no Público de amanhã)
In Estado Civil, de Pedro Mexia

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Literatura: Luís Machado dá recital de Poesia no Centro Cultural Gulbenkian em Paris

Lisboa, 11 Set (Lusa) - Poemas de Pessoa, Ruy Belo, Mário Cesariny, Sophia de Mello Breyner, António Ramos Rosa, Eugénio de Andrade e Natália Correia vão ser lidos pelo escritor e divulgador cultural Luís Machado em Paris, no Centro Cultural Gulbenkian, dia 11 de Outubro.
A leitura dos poemas terá acompanhamento musical de Inês Rodrigues Correia (piano) e Paulo Jorge Ferreira (acordeão). José Manuel Mendes fará a introdução.
O recital, denominado "La Lumière de la Jeunesse", integra-se na iniciativa "Lire en fête", este ano na sua vigésima edição e dedicada à juventude.
Na primeira parte ("Les rêves et le réel"), Machado lerá poemas de Fernando Pessoa (Liberdade), Ruy Belo (E tudo era possível), Álvaro de Campos (Cruzou por mim...) e Mário Cesariny ("Le Prestidigitateur").
Os poemas da segunda parte (L'Amour) são todos de Eugénio de Andrade.
Segundo Luís Machado, que neste recital assinala 30 anos de carreira como divulgador da poesia portuguesa, o "Lire en fête", uma manifestação cultural promovida pelo ministério da Cultura francês, conta nesta edição com a participação de autores, editores e livreiros de 150 países.
Durante três dias - 10, 11 e 12 de Outubro - Paris será cenário de recitais de poesia, leitura de textos dramáticos, concertos, exposições, debates e mesas-redondas.
Natural de Lisboa, Machado participou, como divulgador cultural, em centenas de recitais em Portugal e no estrangeiro.
Como escritor, publicou "Mistério e mito de um grande amor", "A última conversa-Agostinho da Silva" e "À mesa com Fernando Pessoa".
RMM.

Ruy Belo na Casa Fernando Pessoa

Ruy Belo e a "Árvore das Palavras"

A Árvore das Palavras, produzida pelo Atelier 004 com base na ideia de Sebastião Reis, será inaugurada a 24 de Setembro, na Casa Fernando Pessoa, onde poderá ser vista até Dezembro. Uma árvore que dá frases e versos como se fossem frutos, e que terá num primeiro momento poemas de Ruy Belo e textos de José Cardoso Pires. Na mesma data, pelas 18h30, terá lugar um debate sobre a vida e obra de Ruy Belo, com intervenções de Fernando Pinto do Amaral, Gastão Cruz e Pedro Mexia. Luís Miguel Cintra fará a leitura de alguns poemas de Ruy Belo.

Confira no blogue Mundo Pessoa.

segunda-feira, 1 de setembro de 2008

Ruy Belo na Cinemateca

RUY BELO E O CINEMA

Associando-nos às comemorações do 30º aniversário da morte de Ruy Belo (que passou no dia 8 de Agosto), apresentamos um conjunto de filmes que, mais do que se relacionarem directa ou indirectamente com a sua poesia, foram importantes para ela, ou foram temas dela. SPLENDOR IN THE GRASS e MURIEL foram filmes a que Ruy Belo dedicou extraordinários poemas. IN A LONELY PLACE e NIAGARA tiveram como protagonistas actores especialmente queridos do poeta: o "meu irmão Humphrey Bogart" e Marilyn, "a mais bela mulher do mundo", "Eu aprendi a ver a minha infância", escreveu Ruy Belo.

IN A LONELY PLACE
Matar Ou Não Matar de Nicholas Ray com Humphrey Bogart, Gloria Grahame, Frank Lovejoy, Martha Stewart
Estados Unidos, 1950 - 90 min / legendado em português
IN A LONELY PLACE foi produzido pela sua estrela, Humphrey Bogart, e tem o cinema como pano de fundo. Bogart interpreta o papel de um argumentista suspeito de ter assassinado brutalmente uma jovem empregada de um restaurante, mas é essencialmente um testemunho sobre a violência que todos temos dentro de nós. "Não se perde um olhar / não é verdade meu irmão Humphrey Bogart?".
Seg. [08] 21:30 Sala Dr. Félix Ribeiro

NIAGARA
Niagara de Henry Hathaway com Marilyn Monroe, Joseph Cotten, Jean Peters
Estados Unidos, 1953 - 92 min / legendado em espanhol
Ver entrada no Ciclo "Divas às Matinés."
Ter. [09] 15:30 Sala Dr. Félix Ribeiro

MURIEL OU LE TEMPS D'UN RETOUR
Muriel ou O Tempo dum Regresso de Alain Resnais com Delphine Seyrig, Jean-Pierre Kerien, Nita Kein
França, 1963 - 115 min / legendado electronicamente em português
A terceira longa-metragem de Alain Resnais, de certa maneira, fecha um ciclo na sua obra, depois de HIROSHIMA, MON AMOUR e de L'ANNÉE DERNIÈRE À MARIENBAD. Através da história de uma jovem viúva que vai em busca do homem que amara durante a adolescência e de uma segunda história, de um jovem perseguido por lembranças atrozes da Guerra da Argélia, Resnais realizou um filme extremamente elaborado a nível da montagem e do contraponto entre som e imagem. Em MURIEL, o tema da memória junta-se ao do amor: "Como chegar ao amor sem reminiscências, livremente, seja através de uma memória que foge, seja através de uma memória que se impõe?" (Resnais). MURIEL é também o título de um dos mais belos poemas de Ruy Belo. "Sou muito pobre tenho só por mim / no meio destas ruas e do pão e dos jornais / este Sol de Janeiro e alguns amigos mais"
Qua. [10] 22:00 Sala Luís de Pina

SPLENDOR IN THE GRASS
Esplendor na Relva de Elia Kazan com Warren Beatty, Natalie Wood, Pat Hingle, Barbara Loden, Sandy Dennis
Estados Unidos, 1961 - 124 min / legendado em espanhol
SPLENDOR IN THE GRASS adapta uma peça de William Inge que gira à volta dos recalcamentos sexuais. Neste caso, as personagens são dois adolescentes à descoberta do amor no fim da década de 20 do século passado. Kazan construíu um dos mais belos e dilacerantes poemas de amor no cinema, dando os papéis das respectivas vidas a Warren Beatty e a Natalie Wood (esta no papel de Deanie Loomis, que Ruy Belo tão extraordinariamente cantou). A sequência com o poema que dá o título ao filme é um dos momentos mais perfeitos da história do cinema, com essa mulher que " à imaginação pura resiste".
Sex. [12] 19:00 Sala Dr. Félix Ribeiro

Confira aqui.