quinta-feira, 27 de março de 2008

Catedral de Sons

Acontece já esta Quinta-feira 27 de Março, pelas 21h00, na Catedral de Leiria, mais uma sessão da Catedral de Sons, um espectáculo único de luz, poesia e cor, aliadas à envolvência da música imponente do Grande Órgão num dos mais bonitos espaços da cidade.

Serão interpretes Paulo Lameiro, Inesa Markava, João dos Santos e Nuno Gonçalves, num evento mágico que promete não deixar ninguém indiferente. Uma homenagem a Olivier Messiaen e a Ruy Belo.

O Abismo dos Pássaros.

Quando Olivier Messiaen escreveu esta obra para Clarinete solo não a imaginou para a Catedral de Leiria. Estamos em ano do seu aniversário. Também do poeta Ruy Belo. De que pássaros escreveu Ruy Belo? Inesa Markava só lhes conhece as sombras. São essas que dançam. Mas a noite teima em chamar outras aves, que improvisam novos movimentos e palavras envoltas pelos 32 pés de George Heintz. Desfia-os João Santos com Paulo Lameiro. A visita é de um clarinete baixo, ou melhor, do Nuno Gonçalves. Às 21:00 no transepto do órgão. Quem chegar às 21:01 só ouvirá os próprios passos ecoar no templo da baixa leiriense. O tempo foge à velocidade da Luz. Aqui pertinho de nós.

Agência Ecclesia - 27/03/2008 - 10:12

segunda-feira, 10 de março de 2008

Estrangeiros querem conhecer Casa-Museu Ruy Belo

Teresa Belo conheceu o marido, em 1961, na faculdade de letras de Lisboa. Natural de Vila do Conde, distrito do Porto, não demorou muito a que caíssem de amores um pelo outro. Casam em 1966 e têm três filhos. Diogo, Duarte e Catarina.

Teresa Belo recorda o marido como um homem muito independente, com muita garra e com muita força. Perigosamente aventureiro e com uma vontade de descobrir os mistérios que o mar escondia. A professora aposentada conta que um dia na praia da Senhora da Guia, em Vila do Conde, o marido nadou e mergulhou tanto que perdeu a noção das horas que ficou dentro do mar que gelou. Foi um banheiro que o trouxe, já em coma, e levou para o hospital. “Felizmente recuperou bem do acidente e ainda brincou com a situação durante algum tempo”, conta, tentando explicar a maneira de ser do marido.

Teresa Belo tem noção de que a obra e o nome do seu marido têm sido bastante divulgadas, sobretudo a nível internacional. “As traduções são muitas, as edições sucedem-se umas às outras e estão sempre esgotadas. A obra de Ruy Belo vai ser toda reeditada pela editora Assírio & Alvim, o que é um grande orgulho”, afirma, acrescentando ainda que, por vezes, não é no local onde os autores nascem que o reconhecimento aparece em primeiro lugar.

A companheira de Ruy Belo não consegue eleger um poema preferido da vasta obra do marido. Destaca “Vat79”, “Margem da Alegria” e “Elogio a Maria Teresa”, dedicado à própria. Teresa Belo conta que quando conheceu o marido ele já escrevia. Escrevia em qualquer local e não lhe fazia a mínima confusão o barulho das crianças a brincarem. Muitas vezes escrevia pela noite dentro.

Em relação à casa museu Ruy Belo, que se encontra fechada, Teresa Belo espera que, com a nova autarquia, as coisas comecem a mexer uma vez que acredita que a casa-museu pode ser um pólo de atracção e desenvolvimento do próprio concelho.

“Tive conhecimento de que há imensos estrangeiros que querem saber onde é a casa Ruy Belo e ficam espantados por a casa estar fechada. Depois de a visitarem ficam extasiados por lhes abrirem as portas mas não verem nada lá dentro. Já lá vão muitos anos depois das promessas por parte do anterior executivo municipal para dar continuidade ao projecto.

Entretanto a câmara municipal de Rio Maior decidiu lançar o prémio nacional poeta Ruy Belo que foi apresentado no dia do aniversário do poeta na biblioteca municipal Laureano Santos. Segundo a vereadora da cultura, Ana Cristina Figueiredo, o objectivo deste prémio é promover a escrita poética e projectar o nome e obra de Ruy Belo.


quinta-feira, 6 de março de 2008

Um poeta perigosamente aventureiro


O dia 27 de Fevereiro é um dia especial para a aldeia de São João da Ribeira. Se fosse vivo Ruy Belo faria 75 anos. Como forma de homenagear o poeta falecido há três décadas, família, alguns amigos e admiradores e autarquia organizaram várias iniciativas de celebração que decorreram ao longo do dia.

As cerimónias de homenagem a Ruy Belo começaram com uma romagem à campa do poeta, que está sepultado em campa rasa no cemitério de São João da Ribeira. Teresa Belo, viúva do poeta, fez questão de estar presente e mostrou-se muito sensibilizada com o carinho dos habitantes. Durante os minutos em que decorreu a cerimónia da deposição de uma coroa de flores na campa , foi evocada a sua memória. Teresa Belo declamou dois poemas de autoria do marido. Os alunos do jardim-de-infância e da escola primária de São João da Ribeira, representados pelas professoras, ofereceram a Teresa Belo lembranças feitas pelos próprios dedicados à obra.

A homenagem prosseguiu da parte da tarde na biblioteca municipal Laureano Santos, em Rio Maior, com a inauguração de uma exposição bibliográfica e uma palestra sobre a vida e obra do autor ribatejano. Henrique Fialho, natural de Rio Maior, é um estudioso da obra de Ruy Belo e falou perante uma plateia de cerca de sete dezenas de pessoas que encheram o auditório da Biblioteca da cidade sobre a forma como a vida do poeta marcou a sua escrita.

“Ruy Belo era um homem que tomava posições sobretudo a favor da sua liberdade e da sua independência e isso tinha um custo naquela época. Vivíamos num país onde imperavam os grupos, as amizades de cartilhas, num país fechado sobre si próprio”, explica, adiantando ainda que o poeta decidiu abandonar a Opus Dei, organização à qual pertencia, porque os seus membros não lhe permitiam escrever poesia.

Henrique Fialho relatou um excerto de uma entrevista em que Ruy Belo explica que a sua terra já não existe uma vez que, a última vez que lá tinha ido, após uma longa ausência, as próprias distâncias não correspondiam ao que imaginava. Ficava tudo muito mais perto do que ele recordava.

“Ruy Belo dizia que a sua aldeia já não existia porque sempre que regressamos aos locais da nossa infância parece que tudo se altera. Aquilo que era muito grande, o que tinha uma dimensão enorme na infância encolhe, torna-se pequeno. Às vezes, sufocante”.


RELATOS DA INFÂNCIA

Maria Silvina Carvalho é uma das várias habitantes da aldeia que fez questão de estar presente num dia tão importante para a sua terra. Com uma antologia da poesia de Ruy Belo na mão, edição de 1976 da editora Moraes (já extinta), Maria Silvina vai lendo alguns versos da poesia escrita pelo amigo e antigo companheiro de escola, enquanto todos esperam no largo da Igreja pelos autarcas de Rio Maior que se atrasaram mais de uma hora.

“Fizemos a escola primária juntos. Só não éramos da mesma sala porque naquele tempo rapazes e raparigas tinham aulas separadamente”, conta, explicando ainda que ela e Ruy Belo tinham apenas um mês de diferença de idade.

A amiga de escola, Maria Silvina Carvalho conta ainda a O MIRANTE que, em pequeno, Ruy Belo, era uma criança muito irrequieta e divertida sempre que se juntava com os amigos. A antiga companheira de infância recorda a noite de Carnaval - o poeta não teria mais do que dez anos - em que Ruy Belo e alguns amigos da mesma idade decidiram roubar melões. Aproveitaram o facto de haver baile na sociedade recreativa da aldeia e foram para a aventura. Trouxeram os melões debaixo do braço e foram comê-los para o largo da igreja, às escuras, uma vez que naquele tempo ainda não havia luz eléctrica. Os jovens só não sabiam que estavam a ser vigiados por um vizinho que os apanhou em flagrante. No final não se safaram de levar umas boas palmadas dos pais.

Segundo Maria Silvina, o poeta de São João da Ribeira, também tinha o hábito de ir com um amigo para junto da linha de comboio em Rio Maior onde circulavam apenas carruagens de transporte de carga. “Punham-se a tentar acertar, e partir, as luzes de iluminação das linhas ferroviárias. Era um jovem que gostava de se sentir livre”, explica.


O Mirante online, Santarém, 6 de Março de 2008